segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Era só mais uma. Das milhares que haviam sido aquele ano.
O olhar passou por você, e falou horas naquele segundo. E no jeito que ele te olhou, talvez você também tenha dito muito sem precisar dizer uma coisa sequer.
Você fingia ouvir as palavras repetidas que não paravam. Parecia ter se tornado somente aquilo, palavras e palavras que traziam aquele lacremejar nos seus olhos, mas que faziam questão de se esconder.
Para no final poder dizer tudo bem, como sempre. E ser capaz de fingir.
Para quando olhasse nas lágrimas de quem estava do seu lado, mostrar que não doia, e que, não, aquilo não te deixava passando mal. Nunca.
Você olhou a mesa ao lado e viu risada. Viu conversa. Viu anos de histórias sendo recontadas como se fossem um pedaço de pano delicado, e que não podia ser perdido, que não podia se rasgar, de jeito algum. Você viu o brilho, e você assistiu a brincadeira.
Você assistiu ele a vendo e rindo quando chupou o macarrão como se o mundo fosse acabar amanhã, e como ele ria quando repetia.
Você viu o jeito que a mão dele segurava a sua. E como parecia carregar o mundo, e apesar de tudo, ainda ter espaço para carrega-la. Você viu como elas eram grandes perto das suas, e como, nas noites de medo, foi o que te fez se sentir segura de novo.
Você viu conforto.
'Você entende?' E você voltou, tão rápido quanto havia ido. Aquela sensação de precisar ir ao banheiro voltou e o tempo passou a repetir os passos, como fazia alguns minutos atrás. Você fez o melhor que pode ao tentar esconder as lágrimas por de trás de sua voz, esperando que não a traisse e que continuasse constante, sem se quebrar.
'É...entendo.' aquela não era sua mesa. Não mais.