quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Acordei, lembrei da noite anterior e me doí em desanimo do que tinha sido.

Olhei para fora e meu cachorro estava brincando na grama como sempre. Pulou na piscina. Pulou em mim. 
Vi a mesa de café e a jarra continuou a mesma.
Meu pai passou assoviando um samba como de costume.

Me toquei de que eu e ele tínhamos realmente acabado e que ele não sentia nada. Talvez nunca tenha sentido. O olho pediu trégua.

Mas eu sai para o trabalho e as árvores continuaram balançando igual sempre balançaram pelo trajeto. A mesma quantidade de ontem.
Cheguei na empresa e as cores das paredes continuavam as mesmas de ontem. Minha mesa estava com o bloquinho ali do lado, como eu havia deixado.

Lembrei dele com ela e lembrei dele comigo no antes e senti uma daquelas dores de querer sentar e ficar quieta. Pensei em quanto tempo eu ia me permitir chorar e deixar aquilo se repetir.

Fui almoçar e o suco de laranja continuou com o mesmo gosto que estava na segunda. Meu primo apareceu e continuou me fazendo rir como costuma ser. 
Voltei pra casa e o caminho continuou com os mesmos buracos. Eu conversei com aqueles amigos. Eles fizeram as mesmas graças que fazem há 10 anos.
Meu cachorro me recepcionou em casa com o mesmo pulo de alegria de ontem.
A casa continuou com o mesmo cheiro de quando minha mãe faz comida.
Joguei conversa fora com minha irmã na cozinha sentada do lado do nosso cachorro.

E eu lembrei.
Acabou.
Acabou acabou acabou acabou. Ou nunca começou.

Assisti aquele programa que sempre me faz rir. Me fez rir.

E no conforto do mundo continuar o mesmo, lembrei que a vida segue.
E eu também vou.

terça-feira, 23 de junho de 2015

As vezes, eu acordo com o meu celular tocando e a voz dela entra em mim como um arrepio que me congela e eu ouço as palavras se repetirem uma à uma, como naquela quinta-feira à tarde. O coração aperta e a garganta fecha e um peso que não se explica, entra em mim e eu tenho vontade de gemer em agonia.
Então eu viro para o lado e vejo que meu celular não está ali e eu sonhei. Alucinei. Lembrei. Vai saber.

Não durmo mais.

Vez ou outra, alguém me diz que o pior já passou e agora é seguir com a vida. E eu sinto raiva. Sinto uma raiva que eu desconhecia e queria poder desconhecer de novo. 
E eu me lembro da parede branca. Eu me lembro de sair com os sapatos na mão e pela porta dos fundos no meio da madrugada. De ligar o carro e sair com a lanterna apagada com medo de ser pega. Me lembro do ataque de ansiedade disfarçado em frio.
E eu me pergunto, dentro de mim, como você segue normalmente do jeito que te falam para seguir, quando tudo em você é ainda tão fresco. Tão solto.

Tem dias em que tudo segue normal de novo. Semanas. E você sente alívio. Pensa que, finalmente, acabou.
E, numa festa junina, um bebê a confunde e a chama de mamãe e vocês congelam. Ela segura o choro e você lembra do ultrasom e, por um minuto, é como se tivessem puxado sua pele e trocado ela de lado.

Não existe arrependimento.
Não existe dúvida.
Não existe vontade de voltar atrás.

Existe o resto.
Existe todo o resto.
E ele vai e vem. Sem marca de tempo. Sem cronograma.
Está ali até não estar mais.

Vez ou outra, você se pergunta se esse resto vai te seguir até você aceitar que ele é parte sua agora.

Não sabe.

Enquanto isso, se remenda. Acomoda a dor. Deixa ela ali. Espera.

Quem sabe, um dia desses, você volta a dormir sem lembrar de cada um daqueles dias em detalhe. Quem sabe também, o telefone toca e, um dia desses, sua mão não gela e você não sente nenhum pânico tomar conta. Quem sabe, um dia desses, você deixa todas as mentiras em um canto esquecido. Quem sabe, um dia desses, você não precise mais continuar mentindo.
Quem sabe, um dia desses, você esquece o sofá preto e aqueles 40 minutos.
Quem sabe, um dia desses, você para de sonhar com aquele teste e com ela doente porque não deu certo.
Quem sabe, um dia desses, esse buraco sai e não te alcança mais.

Quem sabe.






quarta-feira, 6 de maio de 2015

 
   Desaprendi a respirar por alguns segundos quando soube de você. O choro mais desesperado e ensurdecedor veio num tom baixo que me assombra o tempo todo, criança. E eu sinto enjoo. Falta ar. Sobra água.
  Quando eu era mais nova e perdi um colega, acreditei não existir silêncio mais alto do que daquele protesto em memória dele. Ou arrepio igual. Vi o mundo acabar um pouco.
  Mas aí recebi aquele telefonema e a perspectiva veio como um chute na cara. Tudo perdeu um pouco de vida.
Cada análise era um teste - não deixar o corpo dominar e o pânico tomar conta. Era difícil controlar, criança. Mas não existia espaço pra nada.
  Quando eu soube de você, criança, eu só pensei em como resolver logo tudo. Dar um jeito. Te vi como um pesadelo surreal, criança. Desculpe.
 Arranjei tudo. Deixei tudo certo. Ignorei o pontinho do ultra som. Tentei não conseguir te ver. Não existia tempo de achar nada, pensar em nada. Era certeiro.
Durante todos os dias desde que soube de você, a única forma de dormir, era com a tv ligada. Som alto. Alto o suficiente pra cobrir meus pensamentos. Pra cobrir o que tinha de você ali.
Você veio carregando e despejando medo. E saindo as escondidas no meio da madrugada, descobri que o corpo, as vezes, treme incansável e involuntariamente. Disse que era frio. Era pânico.
"E se, e se, e se" me seguiram até a hora em que sentei no sofá e esperei. E todos os "e se" viraram uma possibilidade.
  Olha só, criança, descobri um novo fim de mundo numa parede branca com um quadro da santa ceia, cada vez que ouvia apitos ininterruptos e meu coração gelava em pânico.
 E se, e se, e se.
 10 minutos.
 Parede branca.
 20 minutos.
 Ouvido colado na porta da sala.
 30 minutos.
 Será que tem alguém acordado pra falar de qualquer coisa.
 40 minutos e todas as promessas possíveis.
 E fim.
 Alívio.
 Mas eu só queria te dizer, que dentro do alívio, veio dor.
 E dentro do que ficou, do pânico, alívio e todo o resto, a dor vai ficar, ta criança?
 E a gente vai lembrar.
 Vai sempre lembrar.
 Desculpa, criança. É que não era hora.
 Desculpa.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

     Ele chegou e logo te viu. Mas você já o tinha visto assim que ele cruzou a porta e deu aquele sorriso habitual. Sempre tinha sido assim com vocês. Ele aparecia e você acompanhava.
     Não precisou dizer nada. Só andou até você e te puxou para a pista de dança naquele buffet tão brega e cheio de luzes. Pensou na piada pronta que sairia da sua boca assim que entrasse no salão, se tivesse entrado com ele. Da resposta sarcástica e cheia de um humor que só você entenderia. Na risada disfarçada que teria que dar para ninguém perceber.
     Dessa vez só houve silêncio.
     Um, direita, dois, esquerda, vira, volta, dois esquerda. Te virou e te puxou para ele de novo e seu olhos descansaram nos dele e ergueu as sobrancelhas, naquele seu velho hábito. Ele encostou a mão nas suas costas um pouco mais forte, daquele jeito que ele sempre fazia quando te provocava. Daquele jeito tão comum. Não havia o sorriso malandro dessa vez. Você arrumou sua mão nas costas dele daquele jeito que sempre fazia ele rir porque sentia cócegas.
     Um, dois, direita, um, dois, esquerda, ele te puxou para mais perto e encostou o queixo no seu cabelo, naquela forma tão íntima suas. Você sentiu o perfume que havia dado para ele no último natal. Fechou os olhos. Sua mão segurou a dele mais forte. O dedo dele mexia nas costas da sua mão, naquele velho hábito, enquanto você cutucava a unha torta dele. Seus olhos voltaram para os dele e a música seguiu naquele ritmo velho e conhecido.
     A história de vocês se lia em movimento. Cada canto seu era um hábito velho dele e cada parte dele era um costume seu.
     Foi.
     Se segurou para não puxar aquele cabelo dele que sempre arrepiava. Ele segurou o impulso de inclinar para beijar sua testa.
     A música terminou e o que ficou no espaço foi a sobra de vocês.
     Você deu um passo para trás. Olhou para ele.
     Ele ainda tinha aquela cicatriz daquela trilha que vocês fizeram. Alguém novo ia perguntar para ele sobre ela algum dia. Ele ia lembrar de você. Quem sabe não te mencionaria na história. Talvez não. Vai saber.
     Ele te olhou. Deu aquele sorriso fechado e torto que ele sempre dava depois de uma briga. Você coçou o pescoço daquele jeito que sempre fazia quando não tinha certeza do que ia seguir. Juntou as mãos e passou os olhos por todo o rosto dele.
     A intimidade de vocês só se mantia em movimento. Não existia mais nada. Não existia mais palavra.
     Deu aquele seu sorriso curto. Memorizou. Mais um passo para trás e seguiu para a porta. Virou e viu que ele seguia o caminho contrário.
     Seguiu para o seu canto. Ele seguiu para o dele.
     A música tinha acabado.


domingo, 31 de agosto de 2014

       Acho que talvez não exista sensação pior do que não saber o que aconteceu com você. Sabe? De chegar um dia e ficar tentando entender o que é essa pessoa que você é agora, que não é você. Falta sentido. Faz todo o sentido.
    Quando chega um momento e você acha que é melhor não fazer aquela piada. Ou aquele comentário. Que é melhor sentar mais no canto e ficar na sua. Que não vai haver relevância no seu comentário. Na sua companhia.
       Quando você se encontra num bolo de gente conhecida e não tem a menor ideia se existe realmente alguma diferença você estar ali. Se é só costume. Seu. Deles. 
       Foi só quando eu tentei entender o que é que tava acontecendo comigo, que eu parei pra entender o quanto a gente se desfaz da gente pelos outros.
      Fala mais baixo para não incomodar, ri mais baixo para não parecer escandaloso, não faz uma piada para ter certeza que não vai ofender, muda o jeito de arrumar uma coisa, aceita ouvir o que não precisa.
     Você faz pequenas trocas, no seu dia a dia, por serem mínimas; simples; por uma boa convivência. E elas se tornam rotina até que se tornam você. 
      E, quando você se toca, parece não haver eixo. Pouco natural. Quase tudo forçado. 

      Eu não tenho muita experiência de vida e eu sei ser uma pessoa pedante pras coisas, mas acho que o que eu descobri ao buscar alguma mudança, não deve ser diferente do que uma pessoa de 40 ou 50 anos deve sentir também - que não existe nada mais desconfortável do que se reentender. Não existe acalento nenhum no processo. Só angústia.
    Você se coloca em situações que odeia o tempo todo, pra ver se realmente odeia aquilo. Você resolve manter posição daquilo que acha e arranja briga, é taxado de chato; egoísta. Você tira o pé de algumas coisas que assumia e aceita que isso pode causar desconforto e atrito em algumas relações que você tem. Você trabalha em falar o que pensa e o que quer, com a enorme possibilidade de estarem te julgando ou de gostarem ou de simplesmente não se importarem. Você se questiona o tempo todo sobre o que realmente quer - e essa talvez deva ser a maior crise de todo esse processo. Você trabalha constantemente com não se importar com o que os outros acham que é a maneira que você deveria agir ou ser, até o ponto em que realmente para de se importar. Você trabalha com incomodar e aceitar que nem todo mundo vai gostar do que você faz ou é. O processo é horrível porque você expõe muita mais de você e tem que aceitar a vulnerabilidade daquilo. Vira sua pele do avesso, como eu já ouvi uma vez.
     Eu passei uma parte do ano perdida e me revirando de todos os lados e avessos, de um jeito que parecia eterno, quase torturante. Mas aí você se acha. 
      E no maior clichê desse texto já tão óbvio, uma coisa se aquieta. Sobra você.
      E, de um jeito estranho, isso é suficiente. 


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Dos planos falhos.

     Seis anos atrás, eu voltava de um aniversário quando soube que Ana ia se separar do homem com quem estava há oito anos.
     Ana, veja bem, sempre teve planos. Ela acreditava ter tudo decidido; compreendido. Namorava a mesma pessoa desde os 16 anos, saiu da faculdade já com uma carreira estabilizada e noiva. Ana sempre quis ser bom exemplo. Sempre foi determinada, cheia de vontades. Cheia de planos traçados só a espera de serem realizados.
     Com 24 anos, os planos de Ana se rasgaram bem em frente à ela sem nem existir tempo de arrancar qualquer linha de silêncio e suspirar dor.
     Cheia de planos quebrados, Ana foi embora pensando em não voltar. Saiu em busca de si mesma numa viagem, com um mundo virado de cabeça para baixo e correndo contra tudo que ela achou que estaria vivendo e nunca viveu.
     Fazia cinco meses em que Ana viajava quando a encontrei e passamos uma tarde conversando, regadas a crepe parisiense e lágrimas. Ela me contou sobre seus planos perdidos, sobre o fim indesejado. Me contou sobre a dor contínua em chegar em casa e ouvir que havia outra, depois de oito anos. Sobre tentar tanto buscar um conserto que não podia mais ser remendado. Tinha um sorriso fraco e olhos vermelhos misturados em palavras salgadas, como o de alguém tentando lhe afirmar que ficaria tudo bem, sem a crença própria de tal possibilidade.
     Quando fui embora aquele dia, lembrei de uma Ana antiga, cheia de vontades, apaixonada por todas as oportunidades que pareciam existir naquele momento. Senti o calafrio de planos falhos e o arrepio de um possível adeus definitivo.
     Os anos se encarregaram de acontecer, Ana voltou e se fez nova e velha. Permitiu que aquele jeito tão seu voltasse a aparecer em seus olhos e piadas. Ana até se apaixonou de novo e se casou. Recomeçou.
     Um ano atrás, sentada numa mesa de jantar, o pai de Ana me contou sobre ela e como tudo, mais uma vez, se fez em caos. No mês seguinte, quando encontrei ela - agora mãe solteira - os olhos se debulharam em lágrimas e história. Conversamos sobre decisões, sobre decepções, sobre certas coisas estarem fora de nosso alcance. Sobre estar envolvida com alguém dependente. Sobre ter um filho com ele. Sobre só descobrir tarde demais. Afirmei que ela havia feito o melhor para ela e para o filho; que havia feito tudo o que podia; que não existia decepção em uma relação parar de dar certo.
     Um mês depois, quando seu marido resolveu se ajeitar, ela voltou a morar com ele.
     Duas semanas atrás, conversando com os seus pais, senti um nó se formar na garganta de cada pessoa presente naquela sala de estar, enquanto eles nos contavam sobre como Ana desistiu de si mesma.
Ana, veja bem, era a pessoa mais alegre o qual tive o prazer de conviver e crescer com. Ana sempre teve um daqueles jeitos difíceis de explicar - daqueles que você gostaria de ter igual. Me fazia rir como pouca gente era capaz. Tinha uma vida dentro dela, daquelas de pensarmos em como o mundo seria mais puro se tivessemos um pedaço daquilo dentro de nós.
     Mas Ana também sempre amou demais. Sempre esperou demais.
     Ana não aceitava mais uma falha, mais um erro, mais um momento completamente errado. Agora segue tentando remendar algo estilhaçado e com pedaços perdidos - que não possui mais encaixe. Os anos passam e Ana vive uma vida que não é dela, enquanto a vida dela caminha esquecida num canto. Cortou a maioria daquilo que lhe fazia bem, não aceita conversas à respeito. Não existe mais. O que ela era lhe foi sugado e hoje, o que se vê, é opaco. Não é Ana.
     Seis anos atrás, quando tudo deu errado, eu me encontrei em volta de um plano falho que deixou todos aqueles que a conheciam se perguntando o que seria dela. Hoje, a vontade que existiu naquele momento, não existe mais, assim como aquela Ana.
     Seis anos atrás, eu compreendi que planos podem ser causadores de estragos irremediáveis. Entendi um pouco mais da dor daquilo que falha dentro da gente. Daquilo que coloca algo vago em uma pessoa de um jeito difícil de se preencher.
    Mas hoje, eu descobri aquela dor nova, que é simples; que é conjunta, que consegue também ser velha.
    Aquela dor de ver alguém que você ama se afundando, sem se mexer, se espremendo até não existir nada, até não existir mais espaço. Enquanto tudo o que você pode fazer, é assistir.
    Assistir e esperar.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Inferno astral

          Eu nunca acreditei em inferno astral. Sempre achei essa coisa de "tô no meu inferno astral" uma grande desculpa para ficar irritado com o mundo e agindo como bem entender à respeito. Nunca fez sentido, nunca tive, ninguém ao meu redor nunca teve - até eu entrar na faculdade - e sempre me pareceu mais uma forma de canalizar algo ruim que está se fazendo presente na sua vida e permitir que ele se mantivesse ali até o seu aniversário do que qualquer outra coisa. Pelo menos foi sempre assim que eu enxerguei.
       Mas em duas semanas eu faço 21 anos e vi esse tal de 'inferno astral' em uma perspectiva completamente diferente da qual eu costumo olhar. E se esse tal de conceito vêm do fato de que, faltando um mês para o seu aniversário, você tende a analisar sua vida - o antes, o agora e o que está por vir (pelo menos teoricamente) dela - e vê que está tudo uma grande, enorme bagunça? 
          Eu imaginava minha vida diferente com 21 anos. Não de uma forma dramática, não pra dizer "tá tudo errado/tá tudo uma bosta". As coisas não estão uma bosta, não está tudo errado, mas eu imaginava minha vida diferente. Eu achava que teria alcançado alguns objetivos, teria vivido certas coisas, teria me movido mais do que quando tinha 16 anos, por exemplo. Não que muito não tenha mudado, mas eu imaginava diferente. Eu me via mais certa de quem eu sou, de como me defino, do que eu anseio, do que eu desejo criar. Eu achava que teria meus desejos mais definidos dentro de mim. Teria um foco. Eu achava que já teria amado alguém. Que não teria picos de "o que é que eu tô fazendo/o que eu pretendo fazer/o que eu já deveria ter feito e ainda não fiz". Nesse inferno astral eu vi o quão difícil é admitir todas nossas incertezas e, mais do que frustrante, o quanto isso é angustiante.
          Eu nunca fiz planos, nunca quis fazer. Vivi o suficiente para ver o que a falha de um plano é capaz de causar na vida de uma pessoa. Mas a falta de planos no hoje e amanhã me assusta. E a falha de tudo aquilo que acreditava que aconteceria naturalmente também.
          Há um mês do seu aniversário você pensa em tudo aquilo que achou que já teria vivido e não viveu. Você encontra toda a desordem que existe em você. Enxerga tudo o que precisa fazer acontecer, mesmo sem a certeza do que esse 'tudo' é. Sente toda a falta de movimento daquilo que você quer fazer se mexer de uma vez. Daquilo que não se apresentou ainda. 
         Esse inferno astral é toda a incerteza. É tudo aquilo que não acontece. Tudo aquilo que não aconteceu. E ele não convive com você todos os 30 dias antes do seu aniversário. Ele, em uma inconstância, aparece ocasionalmente. 
             E te enrola num nó como mais nada consegue.