Ela tinha uma teoria maluca. A verdade, é que ela sempre tinha uma teorica maluca. Um porquê movido por ideias e pensamentos que, na maior parte do tempo, não fazia sentido nenhum. Um porquê com argumentos incoerentes e conversas sem pausa para um gole de ar, procurando sempre uma resposta, não importando qual fosse.
A outra verdade, é que ela sempre tinha verdades. Milhares delas. Verdades mentirosas, verdades impostoras, verdades verdadeiras...Verdades necessárias para poder seguir em frente. Mesmo que, no fim, não fosse verdade alguma. Por isso criava teorias. Eram verdades inventadas misturadas com perguntas que lhe davam alguma resposta. Por mínima que fosse.
Essa era sua teoria - A vida seguia como se fosse num filme. Cada um era o personagem principal de sua própria vida e, a vida de cada pessoa, era movida pelos personagens que faziam parte dela. Existiam os personagens fixos, os figurantes e os personagens secundários, como em todo filme. Ela sabia ser o personagem fixo do filme de algumas pessoas - de algumas poucas pessoas. Sabia que provavelmente também era a figurante que aparecia numa foto desconhecida, ou passando por uma estação de trem no exato momento de uma despedida.
O que havia levado tempo para perceber, em meio a todos aqueles sorrisos e todas aquelas risadas e todo aquele roteiro improvisado, era que ela, de fato, era um personagem secundário na vida dele. Ela era aquela garota, a qual o cara sempre volta quando o personagem principal vai embora, ou o abandona, ou então morre. O personagem secundário que estaria lá enquanto fosse necessário, ou enquanto o personagem principal desejasse. O personagem que assistiria o principal conhecer um novo personagem, um fixo e, mais uma vez, seria colocado de lado até o momento apropriado. O momento apropriado que poderia aparecer a qualquer momento e que poderia parar de aparecer a qualquer momento.
Ela havia descoberto o quão dolorido era ser o personagem secundário na vida de alguém quando esse alguém, era personagem fixo na sua. De novo.
Quando ela começou a prestar atenção nesse tipo de personagem, ela passou a perceber um ponto importante - vez ou outra, eles iam embora. Não porque o principal encontrou outro personagem fixo, ou porque o principal simplesmente não queria mais. Vez ou outra, o personagem secundário ia embora por vontade própria. Por desejar ser algo mais do que só o coadjuvante. Por desejar encontrar algo fixo em seu próprio filme. Por perceber que era errado. As vezes esse personagem secundário até ganhava um filme próprio.
Dentre todas as suas teorias e elaborações de ideia sem nexos, ali estava um fato. Ia embora quem desejasse. Ia embora quem tivesse a coragem. Coragem de deixar para trás uma história, quem tivesse coragem de não deixar mais nenhuma vírgula passar. Ia embora aquele que procurava e encontrava, enfim, seu ponto final. Ia embora quem estava atrás de um novo parágrafo, num novo capítulo. Ia embora quem conseguisse dizer adeus. Eles iam embora. Simplesmente iam embora, apesar de tudo que os prendia e os pedia para ficar.
E ela o fez.
Quebrou uma vírgula ao meio e transformou num ponto final.
E num último clichê, juntou os pedaços daquela vírgula quebrada e olhou uma última vez. Jogou os cacos no chão e seguiu com apenas um resto - aquele que formava o ponto final.
E foi embora.
Carregando no bolso apenas um adeus dolorido.
"I felt a piece of my heart break,
But when you're standing at a crossroad,
There's a choice you gotta make.
I guess it's gonna have to hurt,
I guess I'm gonna have to cry,
And let go of some things I've loved,
To get to the other side,
I guess it's gonna break me down,
Like falling when you try to fly,
It's sad, but sometimes moving on with the rest of your life,
Starts with goodbye".
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