A primeira vez em que eu me apaixonei, eu acreditei que não houvesse forma mais complicada de deixar uma pessoa ir embora. Que deixar de sentir algo como aquilo fosse a maior forma de desapego que se poderia esperar de alguém. Quando nós somos bem novos, as coisas parecem ter uma proporção muito maior do que na verdade possuem. O amor, seja qual for sua forma e tamanho, naquele momento, parece maior do que tudo. E dentro daquele sentimento que em você é tão novo, tão perdido, tão recente, esquecer alguém parece tão difícil que não sobra espaço para você pensar até que ponto o desapego se faz presente em cada aspecto da sua vida. Não existe essa possibilidade até, de repente, ela lhe chutar a cara. É quando o tempo acontece.
Quando eu era nova, eu sempre vi a maioria daquilo que estava no meu dia-a-dia, como permanente. Eu olhava para meus primos e acreditava que não poderia existir relação mais duradoura. Via minha família como um laço imperfeito, mas real; quase como inquebrável. E, depois de um tempo errando muito, olhava minhas amizades como certas e cheias de futuro; cheias de memórias a serem feitas e lembradas.
O que eu demorei a entender é que o desapego vêm em formas. O desapego, diferente do que eu conhecia, vêm de todos os cantos. O desapego vêm daquela ideia que você levou consigo durante tanto tempo até perceber que nunca vai ser. Vêm de um desejo antigo que passa por você e acontece de outro jeito. Ou simplesmente não acontece. O desapego vêm de um adeus esperado. Ele vêm daquilo que você acreditava que um dia seria e nunca foi. Ele vêm daquilo que se quebra nos seus dias e que, por tanto tempo, você acreditou ser mais certo do que qualquer coisa. Ele vêm com as inúmeras mudanças que, em um ponto, parecem se tornar uma rotina.
O desapego é aceitamento. Ele vêm com o entender de que se desapegar não determina uma falha sua. Ele vêm com a compreensão de que tudo ao redor da nossa vida é cheio de fios que podem arrebentar de uma vez, ou aos poucos, de uma hora para outra. Ele vêm quando você aceita que é necessário desistir de algumas pessoas e permitir que elas desistam de você. Entender o desapego é saber que, as vezes, ele precisa acontecer. É aceitar a dor que vêm com ele e com o fim que ele carrega.
O desapego se faz em torno de fins e cortes. É triste. Cheio de dores que você só conhece quando ele se faz presente. Mistura-se nas decepções e nas possibilidades.
O desapego, entretanto, é paz. E quando você se familiariza com suas formas e a maneira como ele é inevitável, há um encontro com uma paz dentro de você que torna tudo aceitável; justificável.
E você segue. Cheio de dores. Cheio de desapegos indesejáveis.
Mas em paz.
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