quarta-feira, 11 de dezembro de 2013


              Nunca não vai me mesmorizar essa coisa incrível, assustadora e fascinante que é a capacidade da música te recolocar num exato momento da sua vida. Uma música, num determinado momento da sua vida, tocou todas as suas notas melódicas e, de alguma forma, correu por todo o seu corpo como se estivesse dentro dele, alcançando cada pedaço seu e, ao terminar, deixou um pedaço dela ali. Como se, de repente, aquela música ganhasse vida em você. E toda vez que é tocada, não importa quanto tempo passe, aquele pedaço que ficou em você acorda, e tudo o que você sentiu na primeira vez em que aquela harmonia encontrou seu corpo, acorda também. O gosto daquele momento, daquela memória, se faz fresco em você mais uma vez.

             Isso é o que sempre mais me encantou na música - o modo como ela possui a capacidade de entrar em você e fazer você se encontrar numa completa bolha, abandonando e largando tudo o que estava fazendo ou pensando, onde só vive você, aquela melodia e aquele sentimento. Como se, de repente, sua alma ganhasse forma. Como se, ao fechar os olhos, toda a harmonia se combinasse com os movimentos do seu corpo, a batida do seu coração, o decorrer do sangue nas suas veias e você se tornasse uma sinfonia de notas. 

             A música, na minha vida, sempre foi me perder nela, dentro dela, fora dela, ao longo dela, ao redor dela, nos restos dela e em todas as suas formas e possibilidades. 

             Me perder na música, sempre significou cravar um momento em mim. E, uma vez cravado, me perder na música, significou recordar.

             Hoje eu ouvi aquela música, moço, e lembrei de você.

sábado, 26 de outubro de 2013


A gente se quebra. 
E a vida acontece.
E a gente se quebra um pouco mais.
E se quebra um pouco mais quando pensa em como está quebrada.
E vai se quebrando no ciclo doloroso de tentar se consertar.
Se quebra até não existir mais pedaços grandes o suficiente pra serem colados.
Se quebra até não existir mais remendo.
Só cacos.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

E a gente finge não se conhecer.
Fingimos que nunca passamos a madrugada conversando.
Fingimos que nunca falamos sobre planos e vontades.
Fingimos que nunca idolatramos um músico juntos e nunca fizemos melodia ao mesmo tempo.
Fingimos que nunca tivemos uma só memória com o outro.
Fingimos até não ter mais o que fingir; até não ter mais o que lembrar.

O tempo se faz de cura, mas ele também castiga.
Ele passa e faz você encontrar quem a tanto tempo fingia nunca ter conhecido. E te faz se questionar se foi tempo o suficiente para seguir conforme a vida te leva. E então, você tem que fingir com aquela pessoa ali, bem do seu lado.
E ela finge junto.
E juntas, vocês fingem uma última vez, a última memória que terão um do outro. Ou seria a única memória de dois estranhos?
A gente se olha e finge que não se conhece. Que nunca se conheceu.
Só dois estranhos passando pelo mesmo lugar, nesse mesmo tempo.
E a gente olha para baixo e segue andando, segue fingindo.
Porque, o que é o passar do tempo, se não te ensinar a fingir mais?

quinta-feira, 25 de abril de 2013


A verdade é que esquecer alguém não é impossível. O tempo vai afastando tudo aquilo que tornava aquela pessoa reconhecível para você.
Você esquece de como o final da boca dela subia um pouco mais no final, quando ria.
Você esquece a careta típica depois de uma piada.
Esquece como quando ia falar determinada palavra, tinha um jeito diferente de pronuncia-la.
Esquece como a sombrancelha se arqueava quando queria flertar com você ou quando queria tirar sarro.
Esquece o som da risada.
Aos poucos, vai esquecendo a voz.
O que fica é um sopro de memória. Aquilo que você tão insistentemente ainda tenta guardar, para não perder tudo o que ela foi, de uma vez. Mas o tempo se faz de vento. Vai levando os restos daquele sopro, cada vez que passa, até não ter mais nada dele. Até não ter mais nada do que um dia se fez parte sua.

E então, quando você finalmente vê uma foto, passa minutos observando um rosto que já lhe foi tão familiar. E tudo é infamiliar. Infamiliar a ponto de lhe deixar desconfortável; constrangida. Se perguntando quando deixou cada pedaço daquela pessoa se desfazer em você, até não haver mais forma de reencaixa-los.
Até se tornar tão irreconhecível.

A verdade é que esquecer alguém não é tão complicado.
A dor é desconhecer.
A dor maior vai sempre ser desconhecer.