sexta-feira, 18 de abril de 2014

Inferno astral

          Eu nunca acreditei em inferno astral. Sempre achei essa coisa de "tô no meu inferno astral" uma grande desculpa para ficar irritado com o mundo e agindo como bem entender à respeito. Nunca fez sentido, nunca tive, ninguém ao meu redor nunca teve - até eu entrar na faculdade - e sempre me pareceu mais uma forma de canalizar algo ruim que está se fazendo presente na sua vida e permitir que ele se mantivesse ali até o seu aniversário do que qualquer outra coisa. Pelo menos foi sempre assim que eu enxerguei.
       Mas em duas semanas eu faço 21 anos e vi esse tal de 'inferno astral' em uma perspectiva completamente diferente da qual eu costumo olhar. E se esse tal de conceito vêm do fato de que, faltando um mês para o seu aniversário, você tende a analisar sua vida - o antes, o agora e o que está por vir (pelo menos teoricamente) dela - e vê que está tudo uma grande, enorme bagunça? 
          Eu imaginava minha vida diferente com 21 anos. Não de uma forma dramática, não pra dizer "tá tudo errado/tá tudo uma bosta". As coisas não estão uma bosta, não está tudo errado, mas eu imaginava minha vida diferente. Eu achava que teria alcançado alguns objetivos, teria vivido certas coisas, teria me movido mais do que quando tinha 16 anos, por exemplo. Não que muito não tenha mudado, mas eu imaginava diferente. Eu me via mais certa de quem eu sou, de como me defino, do que eu anseio, do que eu desejo criar. Eu achava que teria meus desejos mais definidos dentro de mim. Teria um foco. Eu achava que já teria amado alguém. Que não teria picos de "o que é que eu tô fazendo/o que eu pretendo fazer/o que eu já deveria ter feito e ainda não fiz". Nesse inferno astral eu vi o quão difícil é admitir todas nossas incertezas e, mais do que frustrante, o quanto isso é angustiante.
          Eu nunca fiz planos, nunca quis fazer. Vivi o suficiente para ver o que a falha de um plano é capaz de causar na vida de uma pessoa. Mas a falta de planos no hoje e amanhã me assusta. E a falha de tudo aquilo que acreditava que aconteceria naturalmente também.
          Há um mês do seu aniversário você pensa em tudo aquilo que achou que já teria vivido e não viveu. Você encontra toda a desordem que existe em você. Enxerga tudo o que precisa fazer acontecer, mesmo sem a certeza do que esse 'tudo' é. Sente toda a falta de movimento daquilo que você quer fazer se mexer de uma vez. Daquilo que não se apresentou ainda. 
         Esse inferno astral é toda a incerteza. É tudo aquilo que não acontece. Tudo aquilo que não aconteceu. E ele não convive com você todos os 30 dias antes do seu aniversário. Ele, em uma inconstância, aparece ocasionalmente. 
             E te enrola num nó como mais nada consegue. 

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