sábado, 23 de janeiro de 2010

Life doesn't give second chances.

No final do Ano passado eu vi uma imagem que me marcou. Era quase Ano Novo, e estava assistindo o resumo do que aconteceu naquele ano, aquele em que, de repente, uma música parece falar pelo ano e os vídeos mostram 365 dias divididos em conquistas e tristezas. No final de todas aquelas imagens, de todo aquele desastre, eu reparei no fundo da câmera dois bombeiros no meio daquele buraco. Um deles chorava, e o outro lhe estendia a mão, e em meio a todo o caos, você via dois homens, os quais o mundo provavelmente veria como pessoas preparadas para qualquer acontecimento, abalados; surpresos; humanos. Eu não sei dizer o porquê, entre tudo o que eu vi, aquilo me trouxe lágrima aos olhos. Talvez seja até horrível pensar que antes disso, eu ainda não tinha chorado, mesmo estando com os olhos grudados na TV. E então o Ano foi embora e, de repente, centenas de pessoas estavam mortas, e quando eu achei que esse ia ser o momento inesquecível - e não de uma forma boa - deste ano, milhares de pessoas estavam mortas de novo. E de repente, o mundo parou. Parou para rezar por, pelo menos, uma pessoa viva, e parou para olhar homens e mulheres, pais e mães, filhos, netos, desesperados enquanto tentavam tirar os escombros que sufocavam um parente, ou um amigo, ou um desconhecido. Eu sei que é um assunto pesado, e eu sei que é um assunto que não acaba.
Mas ontem, enquanto eu assistia "Hope For Haiti Now", eu vi um homem que se recusou a sair de onde sua esposa estava, jurando que ela ainda estava por lá, e que viva ou morta, ele não sairia daquele lugar até encontrá-la. E quando ele a encontrou - viva e enterrada - a única coisa que ela disse pelo momento foi "Tell him, Live or Dead, I love him". E então o mundo parou de novo. E parou mais uma vez quando ela disse "Don't be afraid of death", enquanto os escombros a cobriam. E sorriu com ela, quando machucada, saiu daquele lugar cantando pela vida. Num momento de inexplicável tragédia, nós vemos uma inspiração, e nós vemos que amor, existe sim. Nós assistimos pela TV, alguns assistiram pessoalmente, e com toda a tragédia, eu vi o mundo se ver, como a muito tempo não se via, como iguais; humanos. Como aquele que podia estar lá, e como o homem que podia estar enterrando o filho. E depois que passa, não se consegue pensar em nada a não ser "Como eu sou idiota". Como eu sou idiota por ter reclamado em lavar a louça e como eu sou idiota por não querer estudar. Como eu sou idiota em estar sempre querendo mais, quando eu tenho tudo o que eu preciso aqui. E depois você pensa "Como eu queria estar lá, como eu queria poder ajudar com minhas próprias mãos".
Todo dia, nós encontramos pessoas com histórias que surpreendem, e todo dia, nós vemos ou conhecemos pessoas, que simplesmente não aceitam a palavra "Desistir" ou "Parar" no seu próprio vocabulário. E que estão sempre se mostrando mais fortes, e prontas para o que for necessário, não importa o acontecimento.
A verdade, é que talvez, nós devessemos nos preocupar mais em viver, do que em reclamar, ou do que desejar mais e mais.
As coisas podem acontecer num impusso, e aí, é tarde demais para prestar atenção no que você tem, e quem você tem.
O problema é só percebermos isso, quando algo que não pode ser medido em palavras acontece.
De repente, da vontade de viver por aqueles que não puderam.
De repente, somos iguais, braços dados ou não.

Um comentário:

M. disse...

"E depois que passa, não se consegue pensar em nada a não ser "Como eu sou idiota". Como eu sou idiota por ter reclamado em lavar a louça e como eu sou idiota por não querer estudar. Como eu sou idiota em estar sempre querendo mais, quando eu tenho tudo o que eu preciso aqui. E depois você pensa "Como eu queria estar lá, como eu queria poder ajudar com minhas próprias mãos""

Não preciso acrescentar mais nada.
Well said, C.